terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

O Bloco do Eu Sozinho

O cinegrafista Santiago Andrade atingido por um rojão
Um menino negro preso a um poste com um cadeado de bicicleta
Já em ritmo de folia, vou discutir um assunto que não é muito carnavalesco, mas poderia ter sido, se não fosse meramente trágico. Sobre dois fatos, que não são isolados, tento entender o que de fato é esse fenômeno que paira sobre nossas cabeças!

Também não vou aqui fazer o que os outros fazem. Jamais me tornarei aquilo que os outros são e ficar aqui debochando, até porque isso não é brincadeira. Sem querer estabelecer algum juízo, vou passar em cima da questão " se o tal que segurava o rojão era amigo ou não do Deputado Marcelo Freixo" (até porque não existem evidências solidas que comprovem isso).Vou colocar as coisas no mesmo patamar para tentar entender esse fenômeno: o rapaz que foi amarrado a um poste e o cinegrafista morto em uma manifestação. O que isso tem a ver? Por que ambos os fatos eu coloquei no mesmo patamar?

Devido a uma crise de representatividade e a uma ausência de referências, o ser humano constatou que a atitude individual deve prevalecer sobre todas as coisas. O advento da burguesia nos séculos XV, XVI, XVII e XVIII retratam o desejo de uma classe social firmar sua ideias mediante a uma ordem lógica colocada políticamente. A burguesia cresceu reivindicando seu espaço para a propagação do lado privado e individual. E o resultante desse progresso encontra-se nos séculos seguintes e é perpetrada por uma condição social que gera lucros e resguarda a propriedade. Durante a história, a demonização do Estado é algo necessário para a propagação dos ideários da própria burguesia e sua consolidação no meio social. Ou seja, independentemente de sua condição, o Estado é inimigo mortal da burguesia. E qualquer intenção ou qualquer intervenção do Estado, o privado está ameaçado! É assim que opera a mentalidade esquizofrênica da burguesia! Ela não admite o espaço a ser compartilhado. A burguesia não sabe viver em comum, em diferença e nem compartilha (a não ser através dela mesma).

Dentro dessa perspectiva, a atitude frente a ineficiência do Estado e a condição particular  são premissas hoje para justificar a crescente instituição da barbárie. Particularizar as ações em pleno espaço a ser compartilhado é a principal atitude de defesa da própria burguesia, porque ela só existe resguardando sua intimidade, sua propriedade, sua própria existência. Portanto, são ações localizadas e particulares que dão conta a esse processo constituído pela burguesia. Não é atoa que o Freikorps na Alemanhã aderiram condicionalmente as ideias nazistas de Hitler, até porque era preciso conter o que era diferente e ameaçava a particularidade.

Indo nessa direção, ambas atitudes revelam mais do que a irresponsabilidade de um grupo, mas também as intenções ideológicas de grupos que querem depredar, destruir ou barbarizar diante de um bem público ou num espaço público com atitudes particulares e individuais. As proposições e seus efeitos refletem numa sociedade já castigada pela ausência do poder público, ganhando assim inflamadas adesões e apoio. Foi assim na Alemanha, no momento da ascensão hitleriana. Brecht até escrevia e reforçava em seus panfletos que era necessário entender a situação não com olhos simplistas, mas sim com a profundidade das ações.

A concepção do "nada me representa" também atesta uma verdade perigosa: somos capazes de realizar atos puramente individuais carregados de sentimentos cordiais e animalescos, mas sobre a condição não da revolta, mas do mero egocentrismo de garantir o que é simplesmente seu!

Por CARLOS HENRIQUE FIGUEIREDO

A mídia e o Poder Paralelo - Entrevista com Cynara Menezes para a Revista Traulito

Em abril de 2012 a revista Carta Capital lançou uma série de reportagens denunciando o vínculo entre a revista Veja e o bicheiro Carlos Cachoeira. Uma das repórteres envolvidas na investigação é a jornalista Cynara Menezes, que concedeu esta entrevista a Traulito.
Cynara Menezes
Cynara Menezes
Traulito – Você pode nos contar o episódio passo a passo?
Cynara Menezes – Eu vou dizer a minha percepção desse caso. Às vezes as pessoas me perguntam: “Você acha que o repórter da Veja levou grana do Cachoeira?” Eu não acho. Eu acho que é um caso claríssimo de ambição por parte do repórter. Uma pessoa que se torna redator chefe da Abril não precisa se vendar para ninguém. Ele ganha muito bem, ele tem muitas vantagens. Ele chegou no auge da profissão. Então eu tenho certeza absoluta de que não foi uma questão de corrupção pessoal. Ele teve ambição, se rendeu aquele esquema. Do ponto de vista da revista, sim, é possível falar em conspiração: a Veja montou um esquema de poder paralelo no Brasil. Eles de certa forma utilizaram o esquema de espionagem do Cachoeira para tentar mexer no governo. Será possível mesmo que a Veja tenha se enganado com o Demóstenes Torres1? Eles sabiam a quem o grupo que estava servindo a eles era ligado.

Traulito – Ele foi eleito pela Veja um dos grandes moralistas do Congresso.
Cynara – Exatamente. Mas até que ponto a Veja não sabia das ligações dele? O delegado da Policia Federal afirma que sim, que a Veja tinha conhecimento de que os espiões e o Cachoeira estavam ligados a Demóstenes. São histórias recorrentes essas de que a Veja “se enganou” com pessoas. Eles venderam o Collor ao país como uma pessoa incrível, caçador de marajá. De repente, descobriu-se que não era nada disso. E a Revista Veja se disse desiludida. A entrevista do Roberto Civita é uma coisa impressionante: ele diz que quando viram o Collor pela primeira vez, eles pareciam uma mocinha de 18 anos, de tão encantados que ficaram. Ninguém mais acreditou no Collor, só a Veja acreditou.

Traulito – O PSDB fez campanha pelo Collor no segundo turno. Eu tinha amigos que eram ligados a uma esquerda do PSDB que fizeram campanha pelo Collor.
Cynara – O Fernando Henrique chegou a ser cotado para ministro do Collor.
Roberto Civita é um cara que ainda acredita na Guerra Fria, que é preciso parar o comunismo.
Traulito – Que outros arrependimentos houve na Veja?
Cynara – Depois teve o José Roberto Arruda2, que ia ser vice do Serra. Quando ele chorou pedindo perdão à nação, a Veja deu de novo espaço, divulgou a “volta por cima.” Vendeu ao país novamente uma pessoa que não prestava como se fosse boa. Aparentemente iludidos. Aí o terceiro e atual episódio: Demóstenes Torres. Se dependesse da Veja, teria ido para o Supremo Tribunal Federal. Se a CPI não descobrisse as ligações dele, estaria hoje posando de ético e se candidatando a uma vaga no maior tribunal do país, sendo que era um sujeito envolvido com um bandido. A Veja não se iludiu. Ela está há anos tentando impor ao país o seu projeto político. E agora decidiu fazer isso a qualquer preço, custe o que custar.

Traulito – Por que a ofensiva?
Cynara – O Brasil de certa maneira é um país cobiçado. E eu acho que daqui para frente a direita brasileira vai fazer qualquer coisa para pegar o país de volta. E eu acho que o jogo daqui pra frente vai ser pesado. Acho que se eles tiverem que guinar para a direita podre, eles vão guinar mais do que em 2010.

Traulito – Como que a Carta Capital decidiu enfrentar esse caso? E como você avalia a reação, a tentativa de esmagar a biografia do Mino Carta?
Cynara – O Mino trabalhou lá, ele obviamente tem sentimentos de mágoa em relação à Abril. As pessoas sempre falam: “Ah, o Mino tem mágoas.” Obviamente ele tem mágoa.Você percebe pelos textos que ele escreve. Agora a minha questão é: um homem, um jornalista não tem o direito de desprezar os barões da mídia? Por que não é legítimo esse sentimento? Por que todo mundo tem que concordar e respeitar? Por que uma pessoa não pode desafiá-lo? É esse o ponto. Eu sou uma pessoa que nunca usou esse termo PIG: o Partido da Imprensa Golpista, que muitas pessoas usam. Mas você fica penando que no mínimo conspiracionistas eles são, não é?

Traulito – Eu não sei detalhes do caso, mas quando começaram a divulgar as gravações do Cachoeira, foi a Polícia Federal que pôs em circulação essas gravações? Como se localizaram essas gravações entre o Cachoeira, o Paulo Preto3 e o Demóstenes? Como vocês descobriram esse vínculo com a Veja? A partir de que fontes, de que materiais?
Cynara – Tudo começou quando o Jornal O Globo divulgou as primeiras conversas entre o Cachoeira e o Demóstenes. A relação deles tinha começado porque a mulher do suplente do Demóstenes largou o marido para ficar com o Cachoeira. Aí ele disse que ficou amigo do Cachoeira para poder tentar resolver esse imbróglio. Depois houve uma matéria muito esquisita que a Veja fez sobre o hotel de José Dirceu. O José Dirceu deu queixa na polícia porque o rapaz tentou invadir o quarto dele. Seja quem for o José Dirceu, é abominável que um jornalista entre num quarto de outra pessoa. Isso é invasão de privacidade. E aí a revista saiu com a matéria mostrando cenas do corredor do hotel. Ele estava recebendo pessoas do governo e ele pode receber pessoas do governo. E quando começaram a sair as histórias do Demóstenes, começou a correr a informação de que as câmeras que foram colocadas no hotel foram colocadas por esse esquema do Cachoeira, o que já é bastante grave. Além de você tentar invadir o quarto da pessoa, você espionou a pessoa? Você colocou câmeras lá?

Traulito – E a faxineira pegou o jornalista entrando no quarto, não foi?
Cynara – Curiosamente, era o mesmo que fez depois a entrevista do Demóstenes Torres que dizia: “Só nos resta o Supremo Tribunal Federal.” É a mesma pessoa. Mas aí existia uma dúvida: eram as câmeras do próprio hotel ou eles botaram um segundo esquema de filmagem para pegar as pessoas? O delegado disse que eles tinham retirado as câmeras originais do corredor, dizendo que estavam com defeito, e puseram as câmeras deles, para depois pôr de volta as do hotel. Essas mesmas pessoas passaram os últimos dois anos dizendo que a gente vivia sob um estado policial e que o governo grampeava todo mundo. Eles diziam que o governo grampeava Gilmar Mendese Demóstenes Torres, mas o grampo nunca foi mostrado. Quando os rumores começaram a ficar muito fortes, a própria Veja publicou um texto do Cachoeira conversando com o Jairo, que é o repórter espião, tentando inocentar o empregado deles. Mas eu acho incrível que nenhuma das gravações envolvendo o Policarpo5 tenha vindo à tona. A Veja com segurança diz que não são 200, são só 2. E eles tiveram acesso às gravações, nós não conseguimos. O poder deles é tão grande, que eles blindaram as gravações relacionadas ao Policarpo.
Traulito – Mas os grampos mostram o Cachoeira indicando até a página onde ele quer que sua opinião apareça na revista, não é? Ele tinha poder de edição, não?
Cynara – Exatamente.
Traulito – Com quem são esses diálogos?
Cynara – Com o Cláudio Abreu6, o cara da Delta: “Manda ele botar na seção Radar.”

Traulito – Você acha que existem gravações dele com o Policarpo?
Cynara – Elas existem, mas eles conseguiram blindar isso. A gente não conseguiu ter acesso até agora. Eu acredito que elas vão aparecer mais cedo ou mais tarde. Com ou sem CPI, uma hora esses diálogos vão vir à tona.
Traulito – A Veja, nos últimos anos, acentuou uma linha conservadora, grosseira até. Chega a ser vulgar o estilo de propaganda política deles. Você acha que essa radicalização à direita da Veja se deve a quê?
Cynara – Acho que eles não aceitam de maneira nenhuma que o PT seja governo. Eu pensava a princípio que fosse uma coisa só econômica, que não houvesse ideologia por trás. Mas recentemente eu vi uma entrevista do Roberto Civita no Valor e você percebe que tem bastante ideologia. Ele é um cara que ainda acredita na Guerra Fria, que é preciso parar o comunismo. Ele é bem americano nesse sentido. Então eu acho que é uma coisa bem ideológica mesmo. Eles têm raiva. Se não fosse o PT, fosse o PSOL seria a mesma coisa.
Traulito – Mas do ponto de vista econômico e mesmo político, o governo Lula tem ajudado gente como eles.
Cynara – Eu acho que o projeto deles é de centro-direita. Acho que eles se alinham mais com os republicanos dos Estados Unidos. Semana passada eu vi esse cara, eu sinceramente acho ele doente, que é o Reinaldo Azevedo. Ele escreveu que o Haddad ia se encontrar com a militância gay do PT, que quer inclusive que travestis sejam professores. Acho incrível esse tipo de pensamento: qual o problema de um travesti ensinar? Essas pessoas têm medo de que a homossexualidade seja algo contagioso. Se o seu filho for ensinado por um professor travesti, ele vai virar automaticamente gay. Eu não consigo entender qual a racionalidade disso. E fico muito triste quando leio essas coisas. Eles acham que os travestis têm que ser putas para o resto da vida?

Traulito – Mas você acha que essa imprensa se une porque também tem rabo preso com o pior da elite nacional?
Cynara – Todos os grandes veículos só pertencem, como disse o Lula, a nove famílias. E eles já estão dominando também a internet. Se a gente deixar, não vai ter espaço para ninguém, só para as grandes corporações. Qualquer pessoa que desafia algo, eles vão massacrar. Eles vão se unir para massacrar.
Traulito – Parece que tem um caráter monopolista mesmo.
Cynara – Eles querem manter como está o negócio. Essa semana aconteceu uma manifestação gigantesca no México. Os mexicanos estão putos com os meio de comunicação de lá. Faz 15 dias saiu uma denúncia de que o candidato do PRI, que é apoiado por toda a mídia, pagou os meios de comunicação para falarem bem dele. O apresentador do principal telejornal do país recebeu dinheiro. Aí eles fizeram uma manifestação. Aqui só saiu: “Estudantes do México vão à rua contra ‘manipulação’ dos meios de comunicação.” Ninguém conta que houve uma mobilização forte, que eles podem perder esse poder pela primeira vez no México.

Traulito – E o ódio que elestêmda Kirchner na Argentina por peitar o Clarim?
Cynara – Vocês imaginem o que seria aqui diante do quê a Cristina fez. Para você assistir futebol na Argentina, você tinha que pagar, era tudo cabo, tudo pay-per-view. A Cristina estatizou o futebol: só quem passa agora é a televisão estatal. Os donos da mídia ficaram completamente enlouquecidos. Imagina se fizesse isso no Brasil? Se tirassem o futebol da Globo e pusessem na TV Educativa, eles derrubavam o governo.
Traulito – Ela é também uma pessoa mais combativa do que o governo do PT tem sido.
Cynara – Ou talvez a mídia daqui seja mais perigosa que a de lá.

Traulito – Você acredita que a internet equilibra um pouco esse quadro?A gente tem hoje blogueiros extremamente visitados, acessados, como o Luís Nassif ou mesmo o Paulo Henrique Amorim, que enfrentam o quadro da mídia concentrada.Você acha que isso tem algum efeito?
Cynara – Dá para fazer bastante barulho. Mas precisava ter um portal. Um portal poderoso, porque os portais estão todos nas mãos deles. Eles dominam os portais. Era o que eu queria: ajudar na criação de um portal alternativo.
Traulito – Agora, por curiosidade, como funciona no caso de um jornalista que começa a atuar de forma independente? Como ele sobrevive se ele tem um blog, alguma coisa assim?
Cynara – Nós da Carta sempre pensamos que depois de lá não vamos mais trabalhar em lugar nenhum (risos). Eu trabalhei na Veja por oito meses. Horrível. Foi uma experiência bem ruim, um equívoco. Depois trabalhei três anos na VIP. Foi confortável, ganhava bem, não tinha dores e cabeça, mas o que me acrescentou? Nada. Nada. Eu não tenho o menor desejo de trabalhar outra vez em um lugar desses. Por outro lado, eu tenho muitos sonhos ainda e acho possível outro tipo de jornalismo. Acho que a gente pode ainda inventar. Nessa história do México, um cara escreveu um artigo muito interessante. A Time fez um estudo sobre a cabeça das pessoas que nasceram na era da internet. E eles dividiram em dois grupos: os nativos digitais e os imigrantes digitais. Imigrantes digitais somos nós que nascemos depois, a gente que conheceu o online já adulto. Os nativos digitais, a cabeça deles funciona diferente. Eles mudam de plataforma 27 vezes por hora. Eles não se prendem a nada. Então eles saem do celular para o tablet, do tablet para a TV. Isso aí vai mudar o modo do jornalismo: o futuro da mídia é outro. A gente está engatinhando nisso ainda. Se por um lado eu sei que eu não vou mais trabalhar na Abril, ou talvez não vá trabalhar na Veja ou na Globo, eu acho que existe um mundo de possibilidades que a gente ainda nem conhece.
Se tirassem o futebol da Globo e pusessem naTV Educativa, eles derrubavam o governo.
Traulito – Você acha que o jornalismo reproduz uma tendência geral à troca de favores, ao empenho pela circulação.
Cynara – Acho, mas também existe o contrário. Quando eu vejo ocuparem Wall Street, quando eu vejo esses meninos no México ou os indignados na Espanha, eu percebo que o discurso do “outro mundo é possível” também tem muitos seguidores. É com essas pessoas que temos que conversar. Olha a fila que está aí fora, na porta do teatro de vocês. Uma peça de esquerda radical e as pessoas estão interessadas. Mas o modo de pensar do seu trabalho tem a ver com a atualidade. Não foi a direita que queimou o filme da esquerda, foi a esquerda que queimou o seu próprio filme cometendo erros. Esses meninos que fazem esses movimentos pelo mundo, eles são a esquerda legítima. Mas vá tentar dizer a eles que são de esquerda. Eles não aceitam, porque muito estrago foi feito e se dizer de esquerda virou uma coisa feia. Mas é preciso resgatar o verdadeiro sentido disso.
Demóstenes Torres, filiado ao DEM de Goiás, foi eleito senador da República em 2002 e assumiu em março de 2011 a liderança da bancada dos Democratas no Senado.
2 José Roberto Arruda foi eleito senador em 1994 pelo antigo PP. Em 1995 ingressou no PSDB e foi eleito governador do Distrito Federal em 2006.
3 Paulo Vieira de Souza, ou Paulo Preto, foi diretor de engenharia da Dersa, estatal paulista responsável por algumas das principais obras viárias do país, entre elas o Rodoanel.
Gilmar Mendes foi Advogado-Geral da União no Governo Fernando Henrique Cardoso e empossado ministro do Supremo Tribunal Federal em 2002. Foi presidente do STF de 2008 a 2010.
Policarpo Jr. é diretor da sucursal da Veja em Brasília e um dos redatores chefes da revista.
Cláudio Abreu é ex-diretor da empreiteira Delta Construções, empresa responsável por várias obras estatais e federais, licitações e prestação de serviços.
Entrevista tirada da Revista Eletrônica "Traulito", nº 7

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Bastou ser negro!

O medo na cidade: um negro entra no ônibus!
De repente, um cara negro de boné entra no ônibus! O silêncio do pavor começa! A senhora que está sentada na janela, perto do trocador, segura sua bolsa de maneira sorrateira. A menina que estava mexendo no Whatsapp, num instante, pára de usar o celular e o guarda no seu bolso. O moço da maleta, sentado num banco mais alto, vê de forma panorâmica cada atitude do negro que acaba de entrar no ônibus! Ele observa seus movimentos de maneira extremamente calculista, prevendo as projeções e possibilidades como um banqueiro diante de seus investimentos: "se ele se levantar, eu fico mais próximo da ponta do banco e salto no próximo ponto!". 

A senhora, com o seu filho brincando, segura-o como se eclodisse uma bomba nuclear e pede para que seu filho, loiro, fique quieto. O negro senta ao lado de uma outra senhora que também segura a sua bolsa e que por um momento se vê despreocupada, já que carrega consigo a imagem de Nossa Senhora no pescoço. Ela está protegida! Aquele lugar era o único a disposição! O negro se esparramava de cansaço e descontração naquele único lugar vago. O resto do ônibus: tenso. 

Uma mulher toma de pressa o sorvete, um rapaz bota a cabeça pra fora da janela do ônibus. Um senhor velho trás pra si um pacote de envelope pardo com sua aposentadoria, o menino loiro grita, chora, berra e a mãe, novamente, "fica quieto garoto, pelo amor de Deus"! São 18:00! A oração da Ave Maria! E ônibus freia em pleno sinal fechado! Desespero total toma conta! O negro bota a mão no seu bolso e tira uma caixinha de chicletes! Alívio geral! Respiro alto! A senhora que está ao lado do trocador, impaciente, fala com o rapaz que estava contando as moedas que tinham na caixa: "Eu nunca saio de casa essa hora! Tenho medo de assalto! Já fui rendida duas vezes! Por dois pivetes! Um deles era alto, bem negão, me mostrou uma faca enferrujada e ai tentei chamar a polícia, mas ninguém veio! Eu não vou reagir, né! Ai dei tudo! Mas fiquei danada, porque nem o dinheiro do ônibus pra ir pra casa, aqueles filhos da puta deram!". Quem ouviu a história daquela senhora ficou indignado. E até saiu um murmurio de um dos passageiros: "Brasil, um país de merda!". 

A mesma senhora ainda continuou a falar com o trocador: "sabe o que é, meu filho? Eu não vou mentir pra ninguém, não! To velha mesmo! Mas é que eu morro de medo quando um negão assim como entrou o cara de boné entra no ônibus, sabe?". Teve alguém que ouvisse! E novamente um murmúrio: "Eu também!". O senhor da maleta, observando cada passo do negro sentado viu o rapaz se mexer novamente e ele se levantar. Todos dão um pulo de susto vêem que o rapaz de boné puxa a corda do sinal. Ai, a senhora do filho loiro: "será que vai ser agora?". Silêncio. Os olhares dos passageiros acompanham veementes a cada passo do rapaz negro de boné! Ele vai até a porta e salta! UFA! Alívio! A senhora ao lado do trocado vira e fala para alguns passageiros: "Vocês viram? Mas ele iria assaltar!". Ai, um murmuro, o mesmo, desgraçado e sorrateiro murmúrio: "Bastou ser negro!"

Por CARLOS HENRIQUE FIGUEIREDO

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Não existem Direitos Humanos ao sul do Equador!

Rachel Sheherazade, a apresentadora do Jornal SBT Brasil: a  mais nova namoradinha da direita no Brasil

No ano de 2008, a então Deputada do PT (hoje ministra) Maria do Rosário foi agredida verbalmente e fisicamente em frente as câmeras de uma emissora de TV pelo também Deputado Jair Bolsonaro (PP). Na ocasião, o debate era sobre a redução da maioridade penal no Congresso, colocando ampla demonstração das matrizes que encorporam tal discussão e os efeitos de uma sociedade que criminaliza menores de idade. Durante o calor da discussão, o deputado que tem ideias ultra conservadoras havia dito em plena sessão que se quisessem proteger um estuprador pelas leis que por ora estão ainda em vigor, que então a deputada defensora dos direitos humanos Maria do Rosário contratasse o tal estuprador para ser o motorista de sua filha. A partir daí, a Deputada, no seu total direito de contestação, respondeu devidamente ao deputado, causando um verdadeiro bate boca aos repórteres que estavam no Salão Verde da Câmara a espera. Bolsonaro, sem nenhum pudor, ainda chamou de "vagabunda" a deputada do PT e ainda por cima agrediu-a com empurrões, ameaçando a batê-la.

Esse fato de grande repercussão nacional aconteceu há quase cinco anos atrás, mas serve de ilustração para o que hoje se passa, quando a jornalista Rachel Sheherazade, em pleno horário nobre, numa bancada de um telejornal, defendeu a ação de "justiceiros" ao prender num poste um menino que foi acusado de roubo no Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro. Existe um grupo duro tanto na política, no Estado, quanto na mídia brasileira que trata da defesa ao direitos humanos como uma bobagem, dando margem ao argumento da crescente violência no país, esquecendo que tal debate também insere a questão de violência em diversos níveis, diante da propagação da barbárie na sociedade. Entretanto, mesmo assim, a questão dos Direitos Humanos no Brasil, a defesa pela integridade e a busca pelo real efeito da legalidade e da aplicabilidade penal continuam sendo relegadas, depositados ao descrédito da população e do Estado em nome de uma brutal sensação de protelar pelo justiçamento, na condição de validar a tal Lei de Talião: "olho por olho e dente por dente". 

Mesmo querendo ser ainda cegos e banguelas, aqueles que veem com deboche os direitos humanos, levando em consideração opiniões motivadas por chacota ou esteriótipos, ainda sustentando opiniões enviesadas, ao colocar no outro, naquele que critica a violência de ambos os lados, a responsabilidade sobre o tal fenômeno assustador que é a crescente falha dos serviços básicos como a saúde e a educação.

Na defesa crucial da justiça feita pelas própria mãos, tal questão e levada em conta como se tal condição de proteger o bandido e punir o tais "mocinhos" fosse um estratagema da tal "onda esquerdopata", protagonizada por partidos de esquerda, black blocs ou outras entidades que estão levando demandas do campo da esquerda. Essa ideia fomenta ainda uma  certa bipolarização da política, atrelada ao conceito primordial dos reacionários que é anular as diferenças e resumir tudo aquilo em um só ponto, em uma só turma. O debate pela integridade humana é sim uma demanda da própria esquerda no Brasil pelo reflexo de anos de descasos e abusos que o país enfrenta todos os dias. Hoje, a Comissão da Verdade vê tamanhos absurdos perpetrados pelos militares e grupos de extermínio, ao apagar da luzes da democracia durante os vinte anos de Ditadura Militar. A tortura e a punição sumária não será uma solução para tais problemas sociais que enfrentamos, uma vez que é ao Estado que deve cumprir a tarefa de garantir serviços essenciais e tentar dirimir problemas históricos propondo projetos para: a erradicação da pobreza, a redução da desigualdade social, uma educação de qualidade, etc...

Sabemos que tais grupos e defensores do linchamento público tem o propósito de comandar um desbaratamento nesse país, começando pela economia e indo pela redução do poder do estado dando lugar ao ordenamento privado. E tal lógica se vê nesses atos de crueldade: a defesa incondicional ou a compreensão (pois pelo que se consta nos dicionários, primeiro "comprende-se" e por extensão "aceita-se") da jornalista Rachel Sheherazade a esse ato de pura violência mostra que o endosso da mídia é pela opção do lugar privado. Pois, uma vez que, ao agir sobre a vontade de "justiceiros", por conta própria para garantir o tal sono tranquilo de quem vive e mora sob o simulacro do medo, estaremos dando lugar a ação do privado em detrimento do público. O estado, estando omisso, quem ficaria no lugar para atuar livre e plenamente é o privado.

Com isso, percebemos que estamos numa grande encruzilhada, onde o poder privado atua sobre o viés da crueldade em cima do desmantelo do público, onde representantes dos direitos humanos são atacados constantemente, onde o população (pobre e por extensão negra) ratifica ações de intensa barbárie. A gravidade da questão deve ser revista pela própria população, dando lugar ao cumprimento das leis em pleno exercício democrático na garantia de valer direitos inviolavelmente incondicionais. Os órgãos que atuam, os movimentos sociais e outra em entidades, na defesa da integridade humana realizam uma grande missão e, por isso, devem ter o apoio total da população, com ajuda de denuncias que possam coibir abusos e excessos.  No entanto, se estamos longe dessa realidade para garantir uma paz de verdade, historicamente, sabemos e afirmamos, infelizmente que em matéria de esculacho, olha ai sai de baixo, o Brasil, sim, é professor!

por CARLOS HENRIQUE FIGUEIREDO

DE VOLTA !

Acho que está mais do que na hora!
Estou de volta para ativar o meu blog pessoal na intenção de colar minhas ideias, minha loucuras e minha produção. Estou num momento de pura ebulição! De pura criação, na missão de tentar revelar o que acho e penso sobre algumas coisas. Acho que o facebook, o twitter são ferramentas paralelas que podem me ajudar no sentido da divulgação dos meus textos. No entanto, prefiro apenas rabiscar algumas coisas, nunca pensando em ser brilhante na redação. Eu sou prolixo de mais, barroco demais, chato demais... mas sou humano, e tais erros são cometidos na pura condição de minha redenção ou até de expurgas todos os meus fantasmas da angústia. Talvez eu não seja tão habilidoso, tentarei ser honesto com o que escrevo, procurando não exagerar! Acho que nem adianta eu dizer isso, porque tal coisa caira no meu baú de esquecimento.
No mais, dou a palavra pra mim mesmo, sem orgulhos ou passados, ou até celeumas.  Quero escrever de forma simples, sem muita arrojamento e destreza.
Bom, no momento, eu estou em plena produção textual, com a minha peça que vai abordar os crimes da imprensa brasileira, seus desvios e sobre a falta de credibilidade de um veículo que é um jornal. Tem personagens autênticos que buscam, da sua maneira, sobreviver, mesmo que para isso a dignidade seja relegada. O personagem principal é um estagiário que acredita e defende a bandeira da imparcialidade.  Só que ao receber em suas mãos um dossiê uma denúncia que incrimina um dos mentores do jornal, ele terá a tarefa em suas mãos de tentar mudar o jogo, mas a sua imparcialidade vai lhe deixando na mão e a determinação para que ele decida qual lado deve escolher.  Na hora decisão, todos decidem por ele.  É aquela história do Zeca Pagodinho: "camarão que dorme na praia a onda leva!"
A peça também é o meu retorno aos projeto de levar ao palco as minhas ideias!
Então é isso pessoal! Veja alguns artigos que eu escrevi anteriormente e se deliciem!
Um beijo a todos
E sejam todos bem vindos!
Carlos Henrique Figueiredo