O medo na cidade: um negro entra no ônibus! |
A senhora, com o seu filho brincando, segura-o como se eclodisse uma bomba nuclear e pede para que seu filho, loiro, fique quieto. O negro senta ao lado de uma outra senhora que também segura a sua bolsa e que por um momento se vê despreocupada, já que carrega consigo a imagem de Nossa Senhora no pescoço. Ela está protegida! Aquele lugar era o único a disposição! O negro se esparramava de cansaço e descontração naquele único lugar vago. O resto do ônibus: tenso.
Uma mulher toma de pressa o sorvete, um rapaz bota a cabeça pra fora da janela do ônibus. Um senhor velho trás pra si um pacote de envelope pardo com sua aposentadoria, o menino loiro grita, chora, berra e a mãe, novamente, "fica quieto garoto, pelo amor de Deus"! São 18:00! A oração da Ave Maria! E ônibus freia em pleno sinal fechado! Desespero total toma conta! O negro bota a mão no seu bolso e tira uma caixinha de chicletes! Alívio geral! Respiro alto! A senhora que está ao lado do trocador, impaciente, fala com o rapaz que estava contando as moedas que tinham na caixa: "Eu nunca saio de casa essa hora! Tenho medo de assalto! Já fui rendida duas vezes! Por dois pivetes! Um deles era alto, bem negão, me mostrou uma faca enferrujada e ai tentei chamar a polícia, mas ninguém veio! Eu não vou reagir, né! Ai dei tudo! Mas fiquei danada, porque nem o dinheiro do ônibus pra ir pra casa, aqueles filhos da puta deram!". Quem ouviu a história daquela senhora ficou indignado. E até saiu um murmurio de um dos passageiros: "Brasil, um país de merda!".
A mesma senhora ainda continuou a falar com o trocador: "sabe o que é, meu filho? Eu não vou mentir pra ninguém, não! To velha mesmo! Mas é que eu morro de medo quando um negão assim como entrou o cara de boné entra no ônibus, sabe?". Teve alguém que ouvisse! E novamente um murmúrio: "Eu também!". O senhor da maleta, observando cada passo do negro sentado viu o rapaz se mexer novamente e ele se levantar. Todos dão um pulo de susto vêem que o rapaz de boné puxa a corda do sinal. Ai, a senhora do filho loiro: "será que vai ser agora?". Silêncio. Os olhares dos passageiros acompanham veementes a cada passo do rapaz negro de boné! Ele vai até a porta e salta! UFA! Alívio! A senhora ao lado do trocado vira e fala para alguns passageiros: "Vocês viram? Mas ele iria assaltar!". Ai, um murmuro, o mesmo, desgraçado e sorrateiro murmúrio: "Bastou ser negro!"
Por CARLOS HENRIQUE FIGUEIREDO
Por CARLOS HENRIQUE FIGUEIREDO
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