terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

O Bloco do Eu Sozinho

O cinegrafista Santiago Andrade atingido por um rojão
Um menino negro preso a um poste com um cadeado de bicicleta
Já em ritmo de folia, vou discutir um assunto que não é muito carnavalesco, mas poderia ter sido, se não fosse meramente trágico. Sobre dois fatos, que não são isolados, tento entender o que de fato é esse fenômeno que paira sobre nossas cabeças!

Também não vou aqui fazer o que os outros fazem. Jamais me tornarei aquilo que os outros são e ficar aqui debochando, até porque isso não é brincadeira. Sem querer estabelecer algum juízo, vou passar em cima da questão " se o tal que segurava o rojão era amigo ou não do Deputado Marcelo Freixo" (até porque não existem evidências solidas que comprovem isso).Vou colocar as coisas no mesmo patamar para tentar entender esse fenômeno: o rapaz que foi amarrado a um poste e o cinegrafista morto em uma manifestação. O que isso tem a ver? Por que ambos os fatos eu coloquei no mesmo patamar?

Devido a uma crise de representatividade e a uma ausência de referências, o ser humano constatou que a atitude individual deve prevalecer sobre todas as coisas. O advento da burguesia nos séculos XV, XVI, XVII e XVIII retratam o desejo de uma classe social firmar sua ideias mediante a uma ordem lógica colocada políticamente. A burguesia cresceu reivindicando seu espaço para a propagação do lado privado e individual. E o resultante desse progresso encontra-se nos séculos seguintes e é perpetrada por uma condição social que gera lucros e resguarda a propriedade. Durante a história, a demonização do Estado é algo necessário para a propagação dos ideários da própria burguesia e sua consolidação no meio social. Ou seja, independentemente de sua condição, o Estado é inimigo mortal da burguesia. E qualquer intenção ou qualquer intervenção do Estado, o privado está ameaçado! É assim que opera a mentalidade esquizofrênica da burguesia! Ela não admite o espaço a ser compartilhado. A burguesia não sabe viver em comum, em diferença e nem compartilha (a não ser através dela mesma).

Dentro dessa perspectiva, a atitude frente a ineficiência do Estado e a condição particular  são premissas hoje para justificar a crescente instituição da barbárie. Particularizar as ações em pleno espaço a ser compartilhado é a principal atitude de defesa da própria burguesia, porque ela só existe resguardando sua intimidade, sua propriedade, sua própria existência. Portanto, são ações localizadas e particulares que dão conta a esse processo constituído pela burguesia. Não é atoa que o Freikorps na Alemanhã aderiram condicionalmente as ideias nazistas de Hitler, até porque era preciso conter o que era diferente e ameaçava a particularidade.

Indo nessa direção, ambas atitudes revelam mais do que a irresponsabilidade de um grupo, mas também as intenções ideológicas de grupos que querem depredar, destruir ou barbarizar diante de um bem público ou num espaço público com atitudes particulares e individuais. As proposições e seus efeitos refletem numa sociedade já castigada pela ausência do poder público, ganhando assim inflamadas adesões e apoio. Foi assim na Alemanha, no momento da ascensão hitleriana. Brecht até escrevia e reforçava em seus panfletos que era necessário entender a situação não com olhos simplistas, mas sim com a profundidade das ações.

A concepção do "nada me representa" também atesta uma verdade perigosa: somos capazes de realizar atos puramente individuais carregados de sentimentos cordiais e animalescos, mas sobre a condição não da revolta, mas do mero egocentrismo de garantir o que é simplesmente seu!

Por CARLOS HENRIQUE FIGUEIREDO

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